Por Maria Cristina Bettencourt é Diretora de Patrimonial Corporativo e Precificação da Sompo
No último dia 27 de agosto, participei da roda de conversa “Equidade feminina: compartilhar espaços, construir futuros”, promovida pela Sompo em parceria com a Sou Segura, em homenagem ao Dia Nacional da Equidade Feminina, que é celebrado no dia 28 e agosto. Ao lado de mulheres com trajetórias inspiradoras — Carolina Vieira, Ana Carolina Mello e Simone Ramos — mergulhamos em reflexões sobre autenticidade, pluralidade e os desafios que ainda cercam a presença feminina em espaços de liderança.
A conversa me levou a revisitar não apenas experiências pessoais, mas também momentos da história em que mulheres, justamente por serem mulheres, foram capazes de enxergar soluções onde outros viam obstáculos. Como quando, em plena Segunda Guerra Mundial, as matemáticas afro-americanas da NASA — entre elas, Katherine Johnson — romperam barreiras duplas de gênero e raça para calcular as trajetórias que levariam astronautas ao espaço. Elas não apenas solucionaram problemas técnicos complexos, mas também abriram caminho para que outras mulheres pudessem ocupar espaços antes inimagináveis. O ótimo filme Estrelas Além do Tempo (2016), aliás, é uma dramatização que relata os feitos dessas mulheres.
Essa capacidade de ver o invisível, de nomear o que não é dito, é uma característica que atravessa a liderança feminina. Durante o evento, falamos sobre as estruturas silenciosas que ainda operam no cotidiano corporativo: interrupções em reuniões, ausência em decisões estratégicas, feedbacks subjetivos, exclusão de ambientes informais de networking. São barreiras que não aparecem nos relatórios, mas que moldam — ou tentam moldar — a forma como mulheres ocupam seus lugares.
Liderar sendo quem se é exige coragem. E essa coragem não nasce da ausência de medo, mas da decisão de não se adaptar a um molde que não nos representa. A liderança feminina não precisa ser uma réplica suavizada da masculina. Ela pode — e deve — ser plural, empática, assertiva, estratégica. Pode ser firme sem ser dura, sensível sem ser frágil. Pode ser tudo isso ao mesmo tempo, porque é feita de pessoas inteiras, cada qual com sua personalidade única.
Ao longo da minha trajetória, aprendi que a autenticidade é uma força regenerativa. Ela não apenas nos conecta com quem somos, mas também com quem lideramos. Quando lideramos com presença, escuta e empatia, criamos ambientes mais humanos, mais éticos, mais inovadores. E isso não é utopia — é estratégia.
A equidade, para ser real, precisa sair dos discursos e entrar nas práticas. Na Sompo, temos buscado fazer essa transição com ações concretas: programas de escuta ativa, mentoria, rede de apoio, indicadores mensais de inclusão. Mas sabemos que isso é apenas o começo. Equidade se constrói também nos pequenos gestos, nas decisões cotidianas, na forma como reconhecemos e valorizamos trajetórias diversas.
Durante a roda de conversa, um colaborador trouxe uma fala que me marcou: “As mulheres não estão pleiteando privilégios, mas igualdade de direitos e deveres”. Essa frase sintetiza o que buscamos. Não se trata de concessão, mas de reconhecimento. Não se trata de abrir espaço, mas de compartilhar o espaço que já deveria ser de todos.
A história está cheia de exemplos de mulheres que, ao assumirem o protagonismo de suas vidas, transformaram o mundo ao redor. A física e química polonesa Marie Curie, única pessoa a receber dois prêmios Nobel em duas áreas diferentes – e dominadas por homens -, não apenas revolucionou a ciência — ela provou que o conhecimento não tem gênero. Malala Yousafzai, ao reivindicar o direito à educação, não apenas enfrentou um regime opressor — ela inspirou milhões de meninas a acreditarem que suas vozes importam.
Essas mulheres não esperaram estar prontas. Elas ocuparam seus lugares e, ao fazê-lo, criaram novos caminhos. E é isso que precisamos fazer todos os dias: ocupar com coragem, com verdade, com presença.
A liderança feminina sem moldes é, acima de tudo, um convite à autenticidade. É um chamado para que cada mulher reconheça sua força, sua história, sua voz. E para que cada organização reconheça que ambientes plurais não são apenas mais justos — são mais inteligentes, mais resilientes, mais preparados para o futuro.
Promover as mudanças que queremos no mundo começa por nós. Pela forma como lideramos, como apoiamos, como escutamos. Pela forma como decidimos ser inteiras, mesmo quando o mundo insiste em nos pedir metades.

