Artigo de Solange Beatriz em 06/04/2022
Solange Beatriz Palheiro Mendes é Diretora-Executiva da Confederação Nacional das Seguradoras
A frequência e a intensidade das enchentes e inundações nos Estados Unidos levaram um grupo de 300 vítimas – reunido sob coordenação da organização não-governamental Anthropocene Alliance, que alega que o planeta entrou em uma nova era geológica, influenciada diretamente pela ação humana – a pleitear ao Governo Federal que reformule o Programa Nacional de Seguro contra Inundações, que é obrigatório nas comunidades construídas em áreas de risco. Atualmente, esse Programa é considerado inadequado devido às grandes mudanças climáticas.
Esse caso exemplifica como o setor segurador pode e deve atuar junto a iniciativa pública para ajudar a mitigar os efeitos de catástrofes naturais, que, segundo o recém-divulgado Relatório de Riscos Globais de 2022 do Fórum Econômico Mundial, constam entre as principais preocupações de líderes mundiais. Aliás, os riscos ambientais dominam as primeiras posições em todos os cenários de análise desse relatório no curto, no médio e no longo prazos.
O estudo aponta que no primeiro cenário, de curto prazo (0 a 2 anos), o risco de eventos catastróficos extremos (Extreme Weather) surge como a principal preocupação entre os 31,1% dos entrevistados.
Já no médio prazo (2 a 5 anos), o fracasso de uma ação mundial conjunta, com vistas a contornar o cenário climático (Climate Action Failure), aparece como a principal preocupação para os 35,7%, seguido de eventos catastróficos extremos (Extreme Weather) para os 34,6%.
Por fim, no longo prazo (de 5 a 10 anos), os riscos ambientais dominam o top 5 das principais preocupações. O fracasso da ação climática mundial (Climate Action Failure) é o primeiro da lista com 42,1%, seguido de eventos catastróficos extremos (Extreme Weather), com 32,4%, depois a perda de biodiversidade (biodiversity loss), com 27%, em quarto lugar, a crise de recursos naturais (natural resources crisis), com 23% e, por último, o impacto da ação humana no meio ambiente (Human Enviromental Damage) com 21,7%.
O relatório destaca ainda que, com o apoio de governos, os seguros serão estratégicos para atenuar os efeitos das mudanças climáticas.
E como o setor segurador pode ser efetivamente estratégico no combate à ameaça climática que, longe de ser uma preocupação futura, já bate à porta das pessoas provocando situações de calamidade?
A primeira aliada é a ciência de dados, permitindo o acesso das seguradoras a informações atualizadas para subscrição de seguros principalmente, quando o risco está diretamente relacionado às mudanças climáticas, que necessitam de constante monitoramento. Com o passar dos anos, a gravidade dos eventos tende a ser maior.
O segundo fator é a tecnologia, que vai permitir a utilização de ferramentas como os drones no seguro rural, para melhorar a análise e a vistoria das regiões a serem seguradas. A exemplo desse grupo dos Estados Unidos, uma das reclamações é que, após as inundações, as reconstruções são feitas em solos encharcados e danificados, o que não deveria ser permitido. Um apoio efetivo seria a reconstrução das casas em locais mais seguros.
Desde 2012, o setor segurador tem participado ativamente de questões aderentes ao tema. Atualmente, cerca de 30% das empresas participantes do Relatório de Sustentabilidade do Setor consideram aspectos relacionados às mudanças climáticas na avaliação dos ativos para investimentos de recursos próprios, reservas técnicas, fundos de previdências e demais recursos financeiros. Isso comprova que o setor está sempre alinhado com as necessidades da sociedade e busca atualização para continuar atendendo às demandas.
Artigo publicado originalmente na Revista Plurale
Fonte: CNseg
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